Nos últimos dias, com o crescimento do debate mundial acerca das políticas migratórias, uma questão tem despertado o interesse de muitos.
Ganha força a ideia de que Cristo achou refúgio no Egito, mas há quem argumente com firmeza que Jesus não era refugiado.
Ao longo dos séculos as Escrituras tem sido citadas nos mais variados e intensos embates políticos.
E quando a Bíblia é citada de forma superficial e simplista, analogias descontextualizadas e incoerentes poderão surgir.
Não queremos entrar no mérito da questão dos refugiados, mas apenas analisar a afirmação conforme a história.
Importa saber qual a definição de refugiado, pela Resolução da ONU de 1951 (e analisar se a família de Jesus se enquadraria nesta condição):
“Refugiados são pessoas que, em conseqüência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em conseqüência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele”.
Jesus foi um refugiado?
Se permanecer provisoriamente numa região, para se preservar perseguição violenta é ser refugiado, digamos que sim, Jesus foi refugiado.
Mas não no contexto que se pretende aplicar atualmente, misturando as épocas como se fossem a mesma coisa e as mesmas condições.
Quem defende a ideia de que Jesus foi refugiado tomam por base o texto de Mateus 2:13:
“E, tendo eles se retirado, eis que o anjo do Senhor apareceu a José num sonho, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga; porque Herodes há de procurar o menino para o matar”.
E, realmente, sem conhecer o contexto deste versículo, de pronto, qualquer pessoa classificaria Jesus como um refugiado.
Isso ocorre porque o texto bíblico parece estar em perfeita harmonia com a definição da ONU para um refugiado.
Afinal, Herodes, que dominava Galiléia, queria matar o menino.
Por ela, Jesus e sua família estariam:
- fora do país;
- com fundados temores de perseguição, conflito, violência ou outras circunstâncias.
Porque Jesus não era refugiado?
Deve haver consenso que José e Maria não podem ser classificados como refugiados, pois:
- não foram expulsos do “país”;
- podiam retornar à ele (como fizeram posteriormente);
Mas e no caso de Jesus, Ele foi ou não um refugiado? Curiosamente na Internet existem até enquetes com esta pergunta.
Pois bem, o fato é que não serão as enquetes que definirão, mas os critérios estabelecidos para tal condição (a não ser que mudem os critérios).
Jesus não era refugiado pois o Egito era província de um mesmo Império que a Judéia e Galiléia: o Romano.
MAPA 1 – CONQUISTA DO IMPÉRIO ROMANO A.C e D.C
Sim, Jesus não estava fora do país! O território era o mesmo, apesar de o Egito não ter o domínio de Herodes (motivo pelo qual foram para lá).
Após a morte de Herodes e dos que tinham o desejo de matar Jesus, José foi avisado, novamente em sonho, para retornar:
“…e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel, pois os que o buscavam tirar a vida ao menino já morreram”. Mateus 2:20
O mapa abaixo mostra o trajeto, inicialmente, de Maria (grávida) e José e, posteriormente, com o menino Jesus já nos braços.
MAPA 2 – A JORNADA DE JOSÉ, MARIA E JESUS
As “portas” do Egito foram abertas para a família de Jesus, mas não era uma nação distinta, com império distinto.
Dizer que Jesus foi refugiado visa sensibilizar líderes mundiais a também abrir suas portas para todos os migrantes.
O problema está na falta de critérios para definir aqueles que são ou não verdadeiros refugiados.
Muitos consideram a si mesmos como refugiados, escolhem o novo país e já nele fazem exigências de proteção.
Não há quaisquer indícios de que, no Egito, a família de Jesus estaria ilegal e causando transtornos.
Jesus não era refugiado!
Ele e seus pais permaneceram dentro do mesmo território, poucos anos, até receber o aviso para retornarem.
Por: Fábio Valfré Prado